terça-feira, 13 de julho de 2010

TODOS OS NOMES


Todos Os Nomes

José Saramago
Editorial Caminho, Lisboa Outubro de 1997

No dia 6 de Janeiro de 1997, escreve José Saramago, no 5º volume de Cadernos de “Lanzarote:

«Um romance que se chamará “Todos os Nomes” e onde não haverá nomes… Ter dito todos os nomes seria uma boa razão para não escrever nenhum.»


A génese de Todos os Nomes é uma investigação a que Saramago se entregou para saber algo do seu irmão Francisco, que morrera de difteria no Instituo Bacteriológico Câmara Pestana, mas não há registo da sua presença no Instituo, tão pouco, na Conservatória da Golegã se encontra o registo do seu falecimento. A investigação acaba por determinar que o irmão morrera de uma broncopneumonia no dia 22 de Dezembro de 1924 e foi enterrado na véspera de Natal.


No dia 22 de Novembro de 1996, escreveu José Saramago no 4º volume de Cadernos de Lanzarote:

«… é também de uma busca que se tratará em “Todos os Nomes”, um romance que com certeza não existiria (caso venha a existir, nunca se sabe…) se, banalmente, burocraticamente, o averbamento da morte do meu irmão constasse dos registos da Conservatória da Golegã. Digamos que o Francisco de Sousa, falecido na idade de quatro anos e dois meses, será co-autor de um livro que começou a ser escrito setenta e dois anos de pois da sua morte…»


Eduardo Lourenço:

«Todos os Nomes é a história de amor mais intensa da literatura portuguesa de todos os tempos.»

Quando acabei de falar, ela perguntou-me, E agora, que pensa fazer, Nada disse eu, Vai voltar àquelas suas colecções de pessoas famosas, Não sei, talvez em alguma coisa haverei de ocupar o meu tempo, calei-me um pouco a pensar e respondi, Não, não creio, Porquê, reparando bem, a vida delas é sempre igual, nunca varia, aparecem, falam, mostram-se, sorriem para os fotógrafos, estão constantemente a chegar ou a partir, Como qualquer de nós, Eu, não, Você e eu, e todos, também nos mostramos por aí, também falamos, também saímos de casa e regressamos, às vezes até sorrimos, a diferença é que ninguém nos faz caso, Não poderíamos ser todos famosos, Ainda bem para si, imagine a sua colecção com o tamanho da Conservatória Geral, Teria de ser muito maior, à Conservatória só interessa saber quando nascemos, quando morremos e, pouco mais, Se nos casámos, se nos divorciámos, se ficámos viúvos, se tornámos a casar, à Conservatória é indiferente se, no meio de tudo isso fomos felizes ou infelizes. A felicidade e a infelicidade são como as pessoas famosas, tanto vêm como vão, o pior que tem a conservatória é não querer saber quem somos, para ela não passamos de um papel com uns quantos nomes e umas quantas datas.»

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