quinta-feira, 29 de julho de 2010

UMA TERNURA PELOS PERSONAGENS FEMININOS

Exemplar do nº 6, da revista “Ler”, referente à Primavera de 1989, e editada pelo “Círculo de Leitores”.

Contém uma entrevista, a José Saramago, feita por de Francisco José Viegas.

José Saramago acabara, então, de publicar “História do Cerco de Lisboa”.

“Ao longo dos seus livros construiu dezenas de personagens, mas nota-se sempre uma ternura maior pelos personagens femininos. Está de acordo?”

Sim, sim. No caso dos meus romances, os personagens femininos são aqueles que eu mais quero, que eu prefiro. Os homens, nesses romances, são sempre, ou quase sempre, não diria pobres diabos, mas gente menor… No “Levantado do Chão” os homens têm ainda força (talvez devido a uma espécie curiosa de machismo alentejano que vai desaparecendo em favor de uma força crescente das mulheres, de geração para geração). No “Memorial do Convento, repare, à frente da Blimunda, não há Baltasar que se aguente… O Ricardo Reis, ao pé de Lidia, é apenas, um pobre heterónimo…

E no caso da “História do Cerco de Lisboa”?

Aí, a força está nas mulheres… Claramente das mulheres. Isto não é uma atitude feminista – deve-se ao facto de eu crer que elas são realmente, fortes, que têm muito para dar. E porque eu gosto muito delas… Acho que, para não cair na frase “la femme est l’avenir de l’ homme” – que é uma coisa mais vazia do que à primeira vista se possa pensar ou dizer – eu penso que elas têm mais autenticidade e mais generosidade que nós. Valem mais que nós, homens. Na verdade, daquilo que é substancial e essencial na vida, aprendi pouco com homens e aprendi muito com as mulheres. Não por idealizações. É o ser humano inteiro, aquilo que elas são… Bom, algumas, eu sei, não são nada disto…”

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