quinta-feira, 2 de junho de 2011

OLHAR AS CAPAS


59 Canções de Amor e Ódio e um Problema Sobre Portugal

Leonard Cohen

Apresentação, tradução de José Alfredo Marques
Fenda/Centelha, Coimbra 1985

Os Barcos de Guerra

De Portugal os barcos de guerra
contorcem-se no cais,
expondo seus vigamentos.
Gerações de gaivotas caem
através dos esqueletos de madeira.

Na cidade
os belos marinheiros mortos,
intacta a sua paixão,
vagueiam pelos becos
desbaratando poemas e moedas gastas.

Garbosos bastardos !
Que lhes interessa o Império
reduzido a metade de uma península,
A Rainha tendo o conselheiro régio
como sétimo e último amante ?

Os seus mapas não mudaram.
As coxas ainda são brancas e quentes.
Novas fronteiras não alteraram
a maravilhosa paisagem de seios.
Nenhum congresso relegou a boca rubra

Por isso deixai os barcos
apodrecer nos limites da terra !
As gaivotas hão-de encontrar outro sítio para morrer.
Deixai as metrópoles portuárias vestir luto
e insignificantes funcionários
que preencham os papéis necessários.
para um distrito longínquo.

Mas, vós, fazei as malas
meus inimigos marinheiros !
Ide vagueando pelos becos
desbaratando os vossos poemas e moedas gastas.
Ide batendo em todas as janelas da cidade.

Em algum lugar encontrareis o meu amor,
adormecida e esperando.

E mal posso saber há quanto
ela sonha com todos vós.

Levantai suavemente o meu casaco
dos seus ombros.

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