quinta-feira, 25 de agosto de 2011

LISBOA EM FOGO


A 25 de Agosto de 1988, um pavoroso incêndio destruiu a alma de Lisboa.

Todo o Chiado ardeu: o Grandella, os Armazéns do Chiado, a Perfumaria da Moda o Eduardo Martins, a Casa Batalha, de 1635, o estabelecimento mais antigo do país, a Casa José Alexandre, as Discotecas Melodia e do Carmo a Ferrari, a Pompadour, a Charcutaria Martins e Costa, a Jerónimo Martins, a Valentim de Carvalho, a mais antiga editora discográfica portuguesa, cujos arquivos históricos foram destruídos pelo incêndio.

 Câmara Municipal de Lisboa, presidida por Nuno Abecassis, o governo, chefiado por Cavaco Silva, prometeram a pronta reedificação do Chiado, o arquitecto, Siza Vieira foi encarregado do projecto de recuperação, mas durante mais de dez anos, a mais nobre zona de Lisboa foi um mar de ruínas e desolação.

Diversos obstáculos impediram os trabalhos de recuperação. Os principais problemas foram de ordem jurídica, questões de propriedade e não só. Só a questão relacionada com o Grandella e os Armazéns do Chiado levou anos a ter uma decisão judicial.




O fogo deflagrou, por volta das quatro da madrugada, numa montra dos Armazéns Grandella e foi combatido por todas as corporações de bombeiros de Lisboa, bem como dos arredores, os autotanques do Aeroporto da Portela. Mais de 1600 bombeiros, estiveram envolvidos no combate às chamas.

Para além dos elevadíssimos prejuízos monetários, há a lamentar a destruição de edifícios históricos, muitos deles construídos no tempo pombalino.

Duas pessoas morreram, mais meia centena ficaram feridas, dezenas de desalojados e mais 2000 trabalhadores ficaram desempregados. Muitos deles tiveram dificuldade em encontrar novo posto de trabalho e alguns nunca o conseguiram.

Ladrões, disfarçados de bombeiros, tentaram pilhar lojas devastadas pelo incêndio, mas foram detidos pela Polícia.




A reportagem “Diário Popular” referia as dificuldades encontradas pelos bombeiros na Rua do Carmo, e destacava as palavras de um bombeiro-graduado:

 ”Nero deitou fogo a Roma e Abecasis a Lisboa. Se a merda das esplanadas da Rua do Carmo não tivesse sido lá posta, o material circulante tinha espaço de manobra pelos dois lados e isolávamos o Grandela. Acontece que isso é impossível, como toda a gente sabe. Vocês, nos jornais, denunciaram isso, mas agora é tarde. Não há nada a fazer.”

Miguel Esteves Cardoso no “Independente”

“Uma catástrofe é mais assustadora quando se compreende que não é um acaso ou um azar. Uma catástrofe é mais violenta quando se compreende que se podia prever e que poderá  repetir-se. Quando o presidente da Câmara de Lisboa, com uma grandiloquência deslocada e copiada, disse “A vida continua”, apetece responder que aí está, precisamente o mal. A grande catástrofe é continuar como continuamos, sem cuidar das nossas coisas.”

Desabafo-lamento do vereador Ribeiro Teles:

 “Eu é que era o pateta que tinha a mania das catástrofes, não era?”

O Chiado tem, hoje, uma nova cara.

Mas, naturalmente, não voltou ao encanto e “glamour” dos tempos antes do incêndio.

Para muitos, o velho Chiado é apenas memória. Uma boa memória, diga-se.

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