sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


Aqui era o Cinema “Rex”, um dos cinemas da minha adolescência.

Em 1967 deixou de ser cinema, foi adquirido por Vasco Morgado e, com inauguração em 28 de Dezembro de 1968 passou a ser o “Teatro Laura Alves”.

Como Teatro encerrou portas nos finais dos anos 80 e, mais tarde, virou superfície comercial, já tendo sido loja de louças, é hoje uma casa de hóspedes, na parte de baixo uma frutaria, dirigida por chineses.

São boas as memórias que guardo do “Rex”.

O pai do Arouca, um rapaz da minha rua, era projeccionista no “Rex” e, volta e meia tínhamos umas borlas.

Foi no “Rex” que, pelo Carnaval de 1966, vimos "Mocidade em Férias"com o Cliff Richard, que é um dos filmes da vida da Aida.

Do “Rex” guardo uma das mais bonitas memórias enquanto jovem, muito jovem, espectador de cinema.




 Naqueles tempos não éramos selectivos, não se consultava o jornal para saber o que ia nos cinemas, punham-se pés ao caminho, e o que viesse à rede era peixe, mas a quase certeza é que um dos filmes era uma “cowboyada”.

Foi numa dessas tardes de domingo que vi um filme, e eu não sei explicar isto muito bem, que me cativou de um modo que não mais esqueci.

Um filme que, curiosamente, nunca mais vi em sala de cinema, apenas numa cassette de vídeo, pertença do Luis Miguel Mira mas que, por um problema de “timing” de gravação, não se encontra completo.

O filme em inglês chama-se “O. Henry's Full House” e reúne a adaptação de cinco contos de O’Henry realizados, em 1952, por Henry Hathaway, Howard Hawks, Henry King, Henry Koster, Jean Negulesco.

Curtas histórias do quotidiano com finais surpreendentes.

Fiquei preso àquele filme e dele sempre me ficou uma grande ternura, que demonstra a força que o cinema possui: aos 12/13 anos o cinema chocalha a cabeça de um puto.

O nome de O’ Henry não me era completamente estranho.


Conhecia-o de nome, porque de quatro em quatro meses, tinha a tarefa de passar um pano do pó pelos livros da biblioteca da casa, e um livro de bolso, com os contos do O’Henry, em inglês, passava-me pelas mãos.

De O’ Henry apenas li alguns contos avulso, inevitavelmente o “O Presente dos Reis Magos” que exemplifica que o Natal será sempre o encanto e a ternura da impossibilidade, ela vendeu o lindo e comprido cabelo para lhe comprar uma corrente, de que ele tanto gostava; ele empenhara o relógio para lhe comprar as travessas, de que ela tanto gostava, para por no cabelo.

O filme contém "A Cop &The Anthem" , interpretado por Charles Laughton, no papel de um vagabundo que, para ter cama e comida na noite de Natal, tudo faz para ser preso.

Numa das tentativas, aproxima-se de uma gentil dama, provoca-a para que, um policia que olha a cena, o prenda, mas a dama era uma prostituta em busca do seu negócio.

É o episódio, realizado por Henry Koster, em que por, brevíssimos instantes, Marilyn Monroe numa deslumbrante aparição, faz o papel da prostituta, e eu, juro-vos que naquele tempo não sabia quem era a Marilyn Monroe.



No “Teatro Laura Alves” representaram-se peças, entre outros, de Bernardo Snatareno e Alves Redol, por lá também andou a Companhia de Rafael de Oliveira.

Nos últimos anos de existência, apresentou teatro de revista, e foi aqui que Ivone Silva, em 1987, na revista “Cá Estão Eles”, representou pela última vez

Quase toda uma vida, Alves Redol lutou para que a sua peça, “ A Forja” visse as tábuas de um palco.
.
Depois de algumas cedências, Marcelo Caetano, permitiu que a peça fosse representada, o que acontecer a 6 de Dezembro de 1969, vinte anos depois de ter sido escrita, numa encenação de Jorge Listopad, interpretações de Carmen Dolores, Jacinto Ramos, Sinde Filipe, António Montez, Manuela de Freitas.

Alves Redol não chegou a ver a sua peça representada.

A morte levou-o uma semana antes.

2 comentários:

ié-ié disse...

qual era (é) a morada do Rex?

LPA

sammypaquete disse...

Boa noite, Mr. Ié-Ié.
O Rex era(é) na Rua da Palma nº 253ao lado da Garagem Lys. Tenho em agenda a procura dos establecimentos que, por causa do "Cinema Lys" aproveitaram a boleia do nome. Alguns já desapreceram, outros ainda por lá estão de portas abertas.
O "Lys", depois "Roxy", hoje um aglomerado de escritórios vazios e uma enorma sapataria nos baixos, também faz parte das minhas juvenis memórias de espectador de cinema.
Um abraço
Um abraço

causa do Cinema "Lys", aproveitrama a bolaeia do nome fica na