segunda-feira, 12 de março de 2012

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


Aqui, ainda é, o Cinema São Jorge.

Exteriormente, o São Jorge não mudou.

Foi inaugurado no dia 23 de Fevereiro de 1950.

Houve um concerto de órgão dado por Gerald Shaw, música da BBC e no écran foi exibido Os Sapatos Vermelhos.

Juntamente com o Monumental e o Império, constituíam as catedrais cinematográficas de Lisboa

Projecto de Fernando Silva, foi inaugurado em 1950, sofreu obras de remodelação em 1982 e passou a ter três salas.

No ano 2000 a Câmara Municipal de Lisboa exerceu o direito de compra do imóvel, e desde Novembro de 2001, por ali se realizam festivais temáticos de cinema, bem como concertos de música.

Dos muitos filme que vi no São Jorge, de um guardo memória.

Chamava-se o filme O Ballet de Moscovo  (1) e vi-o com o meu pai e o António Colaço.
Para o puto de 13 anos, que então era, a sensação que ficou, foi a de uma enorme seca. Ainda hoje, o ballet não me provoca grandes entusiasmos.




O gosto maior era o de ir com o meu pai ao cinema.

O filme, então, não importava muito qual era, na companhia e na conversa posterior, é que residia toda a importância.

 A propósito do Bolchoi, uma lenda majestática da Rússia, se o meu pai soubesse que, há uns dois ou três anos atrás, Natalia Kasatkina, directora artística do Ballet Clássico de Moscovo disse que agora temos mais liberdade mas menos financiamento do que no tempo da URSS, estou mais que certo que a afirmação seria tema para longa e apetecível conversa.

Uma outra memória.

Um amigo, o Afonso Baptista, ia todos os anos, pelo Carnaval, ao São Jorge.
No intervalo, mais prolongado que o normal, punham a circular pelos assistentes dos balcões e plateia, enormes e leves bolas coloridas, que se arremessavam de mão em mão, perante grandes risotas.

Desafiou-nos uma vez.

Não achei nenhuma piada à história.

 O mesmo não direi dos fininhos que, após a sessão, daquele sábado de Carnaval de finais doas anos 60, fomos beber ao Ribadouro, a célebre Universidade do Tremoço, onde, conta a lenda, Baptista-Bastos e Fernando Lopes idealizaram e escreveram o Belarmino.

Ainda mais uma memória do São Jorge.


A Aida tem guardado no seu infindável baú, um bilhete de um dos recitais que aconteceram no São Jorge, para evocar a memória de João Villaret.

João Villaret morreu no dia 21 de Janeiro de 1961.

Não sei a partir de quando, e quanto tempo durou, estas evocações de João Villaret que se realizavam durante a hora do almoço, com discos que o artista gravara para a Valentim de Carvalho.

Um foco de luz projectava-se sobre o palco, onde se encontrava uma cadeira e um ramo de flores.

Este é o bilhete da sessão do ano de 1966.

Um dia de tempos recentes, o Pedro de Freitas Branco, Filhote para os amigos, perguntava:

Alguém hoje seria capaz de sair de casa para ouvir um disco de poesia numa sala de cinema?

(1)   O Ballet de Moscovo.
Com Galina Ulanova, Raissa Struchkova, Nikolai Fadeyechev e o Ballet do Teatro de Moscovo, Orquestra do Covent Garden.
Produzido e relializado por Paul Czinner.
Estreado no Cinema São Jorge em 9 de Janeiro de 1968.

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