quinta-feira, 19 de abril de 2012

OLHARES


Sempre que vou comer uma bifana ao Ribeirão Preto, olho o degradado edifício do Hospital de Arroios
Não são as melhores bifanas de Lisboa, para mim uma boa bifana tem que ter gorduras, mas quando se acompanha com senhoras, há que ir ao Ribeirão, porque são apenas lombo.

Naquela esquina do hospital, virada para a Praça do Chile, funcionou em tempos, uma secção de Assistência Nacional aos Tuberculosos, onde tirei muitas radiografias..


Há quantos anos o Hospital de Arroios se encontra fechado?

Há quantos anos oferece, a quem passa, aquele triste espectáculo?

Tenho uma vaga ideia que a demolição do Hospital acabou por não se verificar devido à preservação de uma igreja que se encontra anexa ao edifício.

Perguntado, o tasqueiro do Ribeirão, disse que, quando, para ali  foi trabalhar, há uns 12 anos, já o hospital não funcionava.

Restava-me chegar a casa e perguntar a Mr. Google.

Em 0,26 segundos apresentou-me 109.000 resultados.


Construído em 1705 a partir do financiamento de D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV e de D. Luísa de Gusmão, funcionou até 1755 nesse espaço conventual o colégio de formação dos Jesuítas, tomando o nome de colégio de São Jorge de Arroios.
Resistiu ao terramoto de 1755 mas não à expulsão dos Jesuítas em 1759, altura em que Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal (1769), determinou a ocupação do convento pelas freiras Concepcionistas Franciscanas, ficando o espaço a ser conhecido por convento de Nossa Senhora da Conceição de Arroios.


O convento ficou devoluto em 1890, ano em que morreu a última freira e em 1892, o Estado decidiu que o seu espaço fosse convertido em hospital e ficasse sob a administração do Hospital Real de São José. Foi então determinado que funcionasse um hospital de isolamento para doentes com peste bubónica, cólera, varíola, lepra e tuberculose.

A partir de 1898, o antigo convento tomou o nome de Hospital Rainha Dona Amélia e destinou-se somente ao tratamento e prevenção da tuberculose, para em 1911 após a Implantação da República se passar a chamar Hospital de Arroios e que funcionou até 1993.


Notícias avulsas dão conta que não têm faltado projectos imobiliários para este privilegiado quarteirão de Lisboa.

O último, que previa a construção de um condomínio de luxo, esbarrou no Plano Director Municipal de Lisboa, que não permitia a construção dos dois últimos pisos pretendidos pela empresa promotora, nem a demolição quase integral daquele complexo.

Curiosamente, dei com um recorte do semanário Sol  de 20 de Outubro de 2011, que dá conta de que o hospital vendido por 11 milhões, foi comprado, minutos depois por 21 milhões.

A Estamo, sociedade responsável pela compra e venda de imóveis do Estado, alienou em Novembro de 2004 os terrenos do antigo Hospital de Arroios – um imóvel já muito degradado, em Lisboa – por 11,2 milhões de euros, a duas empresas do grupo Fibeira.

No mesmo notário e imediatamente a seguir, o terreno localizado na avenida Almirante Reis foi revendido por 21 milhões de euros a uma sociedade imobiliária espanhola.


A notícia transpira corrupção, fraude fiscal,  branqueamento de capitais e peculato.
por todos os poros.

Aliás, como tudo o que envolve compras e vendas de edifícios do Estado, seja em  Lisboa, seja pelo país fora.

O caso ainda percorre os lentos corredores do Palácio da Justiça.

Ainda à porta do Ribeirão Preto, reparo que o hospital abriga um parque de automóveis, com entrada pela António Pereira Carrilho.

No local, onde era o posto da Assitência Nacional aos Tuberculosos, há um pano onde se pode ler: Parque da Praça do Chile. Aberto das 07,30 às 23,00 Horas.

Na Rua Quirino da Fonseca está a igreja que, deveria ter sido preservada, mas alguém se escondeu do termo de responsabilidade e serviço público, pelo que apresenta o deplorável estado que se pode ver nas fotografias. Toda a fachada do edifício era constituída por azulejos mas, ou caíram, ou, garantidamente, foram sendo roubados.

Segundo se pode ler na porta, a igreja funciona como capela do ucraniano rito bizantino católico.


Já agora, como neste blogue se permite a publicação de anúncios, fica aqui a fachada do Ribeirão Preto, esquina da Praça do Chile com a Rua Morais Soares.

Como atrás dito, não são as melhores bifanas de Lisboa, mas merece uma visita.

No final pode rematar-se com café e pastéis de nata que oferecem a particularidade de estarem sempre quentes.

Em suma: um, atento e venerando, nicho, fornecedor-mor-de-musts-de-colesterol.

Quanto à renovação do espaço do Hospital de Arroios, há que esperar sentado.

2 comentários:

Jack Kerouac disse...

Curioso, ainda há poucas semanas estive a olhar para esse hospital, e lembrar-me que foi ali que fiz uma micro quando fui fazer testes para a Força Aérea. Também olhei com pena para aquele espaço abandonado daquela forma.

Anónimo disse...

"Encha o peito de ar.
Não respire
Pode sair e vestir-se"