segunda-feira, 16 de abril de 2012

UMA QUESTÃO DE PERNAS


Maria do Rosário Pedreira, há umas semanas atrás, no seu blogue Horas Extraordinárias, contava esta história:

Há muita gente que gosta de ter a assinatura do autor no seu exemplar do livro e espera, se for preciso, tempos infindos numa fila para o conseguir. Basta ir à Feira do Livro de Lisboa e observar a multidão que se reúne para um autógrafo do consagrado António Lobo Antunes ou do mais jovem José Luís Peixoto, que consegue a proeza de assinar por vezes duzentos livros numa tarde. Houve, porém, um autor que era avesso a tal prática. Chamava-se Miguel Torga e simplesmente recusava escrever dedicatórias nos seus livros. Contaram-me durante as últimas Correntes d’Escritas que, um dia, Mário Soares lhe levou um livro para autografar e Torga lhe terá dito que não assinava livros para ninguém, pelo que não abriria a excepção. Anos mais tarde, contudo, o mesmo Mário Soares terá encontrado por acaso num alfarrabista uma primeira edição de uma das obras do escritor-médico autografada para a jornalista e escritora Maria Archer. Comprou-a e, assim que pôde, confrontou Torga com aquela realidade. Ao que este lhe terá dito que as pernas de Maria Archer não se podiam comparar com as suas...

A história remeteu-me para uma outra, semelhante a esta, lida, há largos anos, na revista Ler editada pelo Círculo de Leitores.

Refere um português que visita um restaurante brasileiro nos arredores de Boston e encontra na ementa Sónia Braga Salmon:

Mas isso é porque a Sónia Braga gostava de cozinhar salmão assim, ou simplesmente gostava de comer salmão desse jeito?

E o gerente:

- Nem uma coisa nem outra, professor. Sabe? A gente pensa: que é que gringo conhece de cozinha brasileira?... Nada, n’é? Então agente pensa de novo: Quem é que gringo conhece do Brasil?... Todo o mundo conhece Sónia Braga, não? Então é isso aí. A gente bota o nome dela num prato… É só questão de negócio, entende?

- Sim, compreendo… Mas então deveria ter outros pratos como… Feijoada Pélé…

O gerente interrompeu-me apelando à minha distração perante o óbvio:

- Professor, mas quem é que quer comer Pélé?

Legenda: imagem do filme O Homem que Gostava das Mulheres de François Truffaut, 1977.

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