quinta-feira, 7 de junho de 2012

RAY BRADBURY (1921-2012)


Na terça-feira, com 91 anos, morreu o escritor Ray Bradbury.

Aos 7 anos deixou-se encantar com os livros de Edgar Allan Poe, para aos 17 anos, numa revista de ficção científica.

Curiosamente foi François Truffaut que meu a conhecer Ray Bradbury.

Em 1966 adaptou ao cinema Fahrenheit 451, que é a temperatura a que um livro se inflama e consome.

Truffaut dizia que o argumento devia 60% ao romance de Bradbury e 40% a ele próprio.

Foi o seu amor pelos livros que o levou a fazer o filme.

Numa qualquer futuro, um regime totalitário decreta que os livros são perigosos e manda-os queimar.




Bem os livros foram banidos Não faz mal, vamos decorá-los.

 Carlos Ruiz Zafón em A Sombra do Vento:

Por que é que se queimam os livros? Por estupidez, por ignorância, por ódio… vá-se lá saber.

Final de Fahrenheit 451:

Montag sentia em si o lento remoinho das palavras, as suas lentas vibrações. E, quando a sua vez chegasse, que poderia dizer, que poderia oferecer, num dia como aquele, para aliviar a fadiga da viagem? Para tudo o que existe há uma época. Sim. Era isso. Um tempo para guardar silêncio e um tempo para elevar a voz. Sim, mas que mais, que mais? Alguma coisa, alguma coisa…
E nas duas margens do rio nascia uma árvore da vida, dando doze vezes frutos e um cada mês; e as folhas dessa árvore serviam para curar as nações.
“Sim, pensou Montag, eis o que vou reter para o meio-dia. Para o meio dia…
“Quando chegarmos à cidade.(1)
  
Em 1985 Bradbury publicou A Morte é Um Acto Solitário. (2)

Bradbury dedica-o  a três amigos e à memória de Raymond Chandler, Dashiell Hammmett, James M. Vain e Ross Macdonald.

Um curioso mosaico do policial negro que se lê com agrado, mesmo que não atinja os picos do género.




Em Veneza, Califórnia, ano de 1949 uma meia dúzia de personagens administram a sua solidão: – um escritor de novelas policiais, um inspector frustrado, uma melómana, obesa q.b. que se enrola em comida e áreas de ópera, uma beldade espampanante de nome Constance Rattigan, e A.L. Sharank.

Um poeta escreveu na parede do quarto do filho:

A solidão é boa para não se estar sozinho.

O livro tem um começo espantoso que, só por si, obriga à sua leitura:

Veneza, na Califórnia, tinha, nos velhos tempos, muito que a pudesse recomendasse a quem gostasse de estar triste. Era o nevoeiro quase todas as noites, e era, ao longo da costa, o gemer das máquinas nos poços de petróleo, e o bater da água suja nos canais, e o zumbir da areia a roçar as vidraças, quando o vento assobiava à volta das praças e ao longo das ruas desertas.
Era no tempo em que o pontão de Veneza, a cair aos bocados, morria no mar. E podia ver-se então gigantesca ossada de dinossauro, a montanha-russa, a coberto ou a descoberto, com o vaivém das marés.
No fim de um longo canal, viam-se as caravanas de um circo, decrépitas, para lá atiradas e abandonadas. E quem olhasse para as jaulas, à meia-noite, veria que lá dentro havia vida – peixes e camarões de ´+agua doce, que andavam ao sabor da maré. E tudo isto, afinal, era o circo do tempo, feito ruína, desfazendo-se em ferrugem.

Ray Bradbury, que agora nos deixou, recusou-se sempre a publicar os seus livros em formato electrónico, dizendo que as pessoas tinham gadgets a mais e, um dia confessou:

A coisa mais divertida da minha vida é levantar-me cada manhã e correr para a máquina de escrever porque tenho uma ideia nova.

(1)   Fahrenheit 451, Livros do Brasil, Lisboa Outubro 1999.

(2)   A Morte É Um Acto Solitário, Publicações Dom Quixote. Lisboa Janeiro de 1987.

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