terça-feira, 12 de junho de 2012

UM JORNAL ENTRE AZEITE, BACALHAU E VINHO A MARTELO


Já sabemos que a Sociedade Abel Pereira da Fonseca, para além da Editora Ulisseia,  também foi proprietária do Diário Ilustrado.


Numa entrevista, publicada em Memórias Vivas do Jornalismo, Roby Amorim, conta a história do Diário Ilustrado:

Foi daí que veio para O Século?

Não, primeiro fui para o Diário Ilustrado…

Que foi um projecto curioso na história da imprensa portuguesa…

Inicialmente o Diário Ilustrado não é projecto nenhum, nasceu da Sociedade Abel Pereira da Fonseca, que na altura controlava o comércio alimentar na grande Lisboa, os azeites, os arrozes, o bacalhau, tudo isso era Abel Pereira da Fonseca.

Uma empresa gerida por dois irmãos…

O Manuel e o Marcelino Correia, cujo pai teve toda a vida a intenção de fazer um jornal que nunca teve tempo, teve muitas outras coisas que fazer. Quando estava para morrer, disse aos filhos que gostaria que eles fizessem um jornal e os filhos fizeram o DI simplesmente para cumprir a vontade do pai, Conseguiram arranjar, creio que por acaso, uma redacção notável, com o Miguel Urbano Rodrigues, o Zé Manuel Tengarrinha, a Vera Lagoa, o Tomás Ribas, o Dinis Machado e uma dúzia de outros.

Era gente muito boa, que tentou fazer um jornalismo novo. Simplesmente, o jornal não pegou. Era um jornal o mais possível da oposição, tanto quanto a Censura o permitia, e lá ia permitindo umas coisas ou outras. Só que, em determinada altura, os senhores Correi ficaram interessados num grande projecto que era fazer alumínio em Angola, isso necessitava da intervenção governamental, era preciso estar bem com o governo e foi nessa altura que eles perceberam para que é que lhes podia servir um jornal. Foi também nessa altura que sentiram necessidade de controlar o jornal. Despediram o Carlos Eurico da Costa com um pretexto perfeitamente absurdo. Ele tinha tirado duas ou três linhas de chumbo (os jornais ainda se faziam a chumbo) porque era pescador, para fazer lá uns apetrechos para a pesca, duas ou três linhas de chumbo que custavam dez centavos ou qualquer coisa assim. Foi despedido por roubo.

Nessa altura nós fizemos um movimento e despedimo-nos todos. Eles aceitaram os despedimentos de toda a gente, menos de duas pessoas, eu e o Zá Manuel Tengarrinha, fomos obrigados a ficar até ao fim do mês e depois acabámos por voltar quando aquilo acalmou um bocado, fomos as únicas pessoas que ficaram do grupo que apresentou a demissão.

No dia seguinte o jornal saíu, foram buscar ao Diário da Manhã, jornal da Umião nacional, os jornalistas todos e era terrivelmente difícil mesmo para eles porque trabalhavam à noite e depois tinham que trabalhar de manhã, estavam sempre meio a dormir. Mas o jornal lá foi saindo, com alguma dificuldade, mas foi saindo.
Mas voltando ao início: foi uma experiência muito interessante, porque se introduziram técnicas de reportagem e técnicas gráficas completamente novas. Depois tornou-se um jornal igual a todos os outros


Legenda: Primeira página do Diário Ilustrado, Ano I, nº 112, 26 de Março de 1967.
Imagem tirada da Hemeroteca digital da Camara Municipal de Lisboa.

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