sábado, 5 de janeiro de 2013

UM NATAL SOMBRIO





Para o meu primo Mário, essencialmente, o Natal são as luzes.

Como todos os anos, cumpriu o habitual programa: percorrer as ruas da cidade, olhar as iluminações, ver a azáfama das pessoas: umas a fazer compras, outras simplesmente a olhar as montras.

Há dias, com muita amargura, dizia-me que até esse prazer simples lhe roubaram.

As iluminações são praticamente inexistentes, e as que vemos são de uma pobreza franciscana.

O problema é que hoje não serviria de nada apanhar o barco até à Trafaria, sabe como é o Inverno. Aliás, hoje nem sequer dava para sair de casa. Eu explico. Esta parte da cidade encheu-se de luzes de repente. É o mesmo todos os anos, por esta altura. Luzes à volta das árvores, por cima das ruas, nas montras das lojas e dos cafés. Luzes de todas as cores. Uma loucura. Homens grotescos com nomes ainda mais grotescos esticando quilómetros de cabos sobre as nossas cabeças. O que é que dá nesta gente para, de um dia para o outro, decidir encher tudo de luzes? Não pensarão nas pessoas? Não lhe ocorrerá, nem por um segundo, o quanto isto pode ser terrível? Já não falo da economia. Mas dos pássaros.

Esta citação é tirada de uma história de João Ricardo Pedro, publicada no Expresso de 15 de Dezembro.

Felizmente que o meu primo não lê o Expresso, tão pouco frequenta blogues porque nem internet tem.

Certamente que ficaria fulo.

Acontece que também gosto de iluminações de Natal, mas compreendo a ironia do escritor.

Também andei por Lisboa.

Acabado o passeio, senti-me sem conseguir lidar com uma melancolia parva para a qual não tenho palavras.

Fica aqui o desalento que encontrei.

Rua do Ouro: uma estrela por cada quarteirão.

Rossio: uma bola colorida, um carroucel, cheiro a algodão doce.

Rua Morais Soares: duas estrelas perdidas na imensidão da rua. A que se vê em primeiro plano, uma outra, lá muito ao fundo.

Para o ano será muito pior, arriscou o meu primo.

Sem comentários: