sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

SARAMAGUEANDO


O livro, no bom dizer do saudoso editor Manuel Hermínio Monteiro deve conter a própria vida dos que com ele lidam quotidianamente.

Sou do tempo em que os livros estavam ao cuidado de gente culta.

Orgulhosamente profissionais, livreiros e editores sabiam o que tinham entre mãos.

Com a chamada globalização, os livreiros foram substituídos por computadores e os grandes grupos editoriais como a Leya, Porto Editora, Bertrand  &Cª Lda, desataram a comprar pequenas e grandes editoras, não com o objectivo de as valorizar mas para, simplesmente, ganharem algo com o negócio.

Por exemplo, Miguel Pais do Amaral, um empresário de tudo e mais alguma coisa, constituiu a Leya e comprou, entre outras pequenas editoras, as Publicações Dom Quixote e a Editorial Caminho que têm nos seus catálogos diversos escritores portugueses e jóias da coroa como António Lobo Antunes, e José Saramago.

Numa entrevista à Notícias Sábado, Fevereiro de 2010:

Os carros são o meu hobby, é algo que me acompanha desde sempre. Em termos competitivos, fui evoluindo aos poucos e agora isto é o máximo. O prazer de correr é único e sinto-me um privilegiado.

Pierre Bourdieu, citado por Arnaldo Saraiva disse que o editor é um personagem duplo que deve saber conciliar a arte e o dinheiro.

Claro que é possível gostar de carros e de livros ou, como na aldeia de Asterix, ser-se bárbaro e gostar de flores, mas não é o caso do personagem que presidencialmente se senta numa cadeira do edifício Leya.

Mário de Carvalho, durante muitos anos editado pela Caminho, em 2012 abandonou o   grupo  Leya pois não estava sujeito a que tivessem demorado três anos para saber quem ele era.

Acho que quem sabe de livros, deve fazer livros, quem sabe de cervejas ou de sabonetes deve tratar de cervejas ou de sabonetes…

Quarta-feira ficámos a saber que José Saramago não volta a ser publicado pela Leya.

Não se conhecem os contornos da decisão, apenas se sabe que chegou ao fim uma relação editorial iniciada há 35 anos, com a publicação de A Noite.

A posição da Leya surge depois de uma das editoras do grupo a Editorial Caminho, ter anunciado deixar de publicar as obras de José Saramago, por falta de acordo com as herdeiras do Nobel da Literatura.

As herdeiras de José Saramago e a Editorial Caminho informam que não foi possível chegar a acordo sobre as condições contratuais que permitiriam continuar a publicar nesta editora a obra do escritor, lê-se num comunicado assinado pelas herdeiras do escritor, a viúva, Pilar del Rio, e a filha, Violante Saramago Matos, e ainda por Tiago Morais Sarmento e Zeferino Coelho, da Editorial Caminho.

José Sucena, administrador da Fundação José Saramago já tornou público que a instituição está a fazer diligências no sentido de encontrar uma editora que sirva a Saramago e a quem Saramago sirva, e avançou a hipótese de, caso não seja encontrada uma editora, ser a própria fundação e editar os livros de José Saramago

Almeida Faria, João Tordo, José Eduardo Água Lusa, Ricahrd Zimler, João Tordo, os herdeiros de Sophia Mello Breyner Andresen, o anteriormente citado Mário de carvalho, já abandonaram a Leya.

Miguel Sousa Tavares seguiu o mesmo caminho e, hoje, em declarações ao Público,  fala de descontentamento quanto ao trabalho do grupo que, matou a identidade das editoras” que agregou desde a sua fundação, em 2008. Não creio que o grupo Leya esteja vocacionado para a edição de livros. A Leya partiu do princípio que juntando várias editoras faziam sinergias e conseguiam fazer melhor, mas isto não é como juntar as salsichas Nobre com as salsichas Aveirense.

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