sábado, 15 de março de 2014

A BRIGADA DO REUMÁTICO


15 de Março de 1974

Os jornais deste dia fazem largas referências ao encontro dos oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas, que, na véspera, se deslocaram ao Palácio de S, Bento  para reafirmarem a Marcelo Caetano o apoio dos militares no que respeita «à política de defesa das províncias ultramarinas.»

Em nome dos militares falou o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Paiva Brandão:

As Forças Armadas não fazem política mas é seu imperioso dever, e também da nossa ética, cumprir a missão que nos foi determinada pelo Governo legalmente constituído
Estamos unidos e firmes e cumpriremos o nosso dever sempre e onde quer que o exija o interesse nacional.

Marcelo Caetano agradecendo o apoio:

O Chefe do Governo escuta e aceita a vossa afirmação de lealdade e disciplina. A vossa afirmação de que as Forças Armadas não só não podem ter outra política que não seja a definida pelos poderes constituídos da república, como estão, e têm de estar, com essa política quando ela é a da defesa da integridade nacional.                             
O País está seguro de que conta com as suas Forças Armadas. E em todos os escalões destas não poderá restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos.
Pois vamos então continuar, cada um na sua esfera, dentro de um pensamento comum, a trabalhar a bem da Nação.

Felizes e cientes do dever cumprido todos regressaram aos seus afazeres.

A pergunta que ainda hoje se coloca:
                                                                                        
È possível que daquelas generalícias almas, uma única, não tivesse o mais leve sinal do que na madrugada seguinte iria acontecer no Regimento de Infantaria 5 nas Caldas da Raínha?


Marcelo Caetano revela no seu Depoimento que encetou todos os esforços, para que Costa Gomes e Spínola estivessem presentes na audiência, mas ambos recusaram e Marcelo lembrou-lhes que essa recusa implicava a exoneração dos cargos onde estavam.

Em consequência da recusa dos generais, é emitido um despacho enviado pela Secretaria-Geral da Presidência do Conselho à Imprensa Nacional, para próxima publicação no «Diário do Governo» em que são exonerados os generais Francisco da Costa Gomes e António Sebastião Ribeiro de Spínola dos cargos de chefe e vice-chefe do estado maior das Forças Armadas, que ocupavam por designação directa do Chefe do Governo. Um outro despacho nomeava o general Joaquim Luz da Cunha, na altura comandante da Região Militar de Angola, para suceder ao general Costa Gomes.

Voltemos ao Depoimento de Marcelo Caetano:

A 18 de Fevereiro recebi um exemplar do livro Portugal e o Futuro com amável dedicatória do autor: Não pude lê.lo nesse dia, nem no seguinte em que houve Conselho de Ministros. E só no dia 20 consegui, passadas já as onze da noite, encetar a leitura ao cabo de uma fatigante jornada de trabalho. Já não larguei a obra antes de chegar à última página, por alta madrugada. E ao fechar o livro tinha compreendido que o golpe de Estado militar, cuja marcha eu pressentia há meses, era agora inevitável.

Legenda: a fotografia é tirada do Notícias de Portugal nº 1403, o título pertence ao jornal República de 15 de Março de 1974.

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