sábado, 1 de março de 2014

POETA MILITANTE


José Gomes Ferreira sempre se considerou um Poeta Militante.
Como tantos outros sabia que se pode ser comunista sem estar filiado no Partido.
Mas quis, para que o que já se sabia ficasse expresso, entrar portas dentro.
Tinha 80 anos e Carlos Aboim Inglês escreveu no Avante:

Camarada!


Dia 29 de Fevereiro de 1980, pelas cinco e meia da tarde, chuvosa, caminhaste pelas ruas com o passo firme da tua alma grande e vieste bater à porta da nossa Casa, na Soeiro Pereira Gomes. Na fala directa de quem pensou e se decidiu em consciência disseste enxutamente ao que vinhas: que te aceitássemos como membro do Partido Comunista Português. Aos 80 anos. Em coerência com toda uma vida, repensada e assumida. Dando resposta combativa a um presente que não é fácil. De olhos postos, juvenis, no futuro que faremos, que fazemos.


As tuas palavras, o teu acto, tinha aquele peso e asas que pões em tudo. Simples, como as coisas verdadeiras do coração. Como um acto lúcido que se cumpre na hora, por determinação de homem independente que sempre foste e serás. De homem solidário que és, de raiz – poeta militante, companheiro dos homens que sofrem, sonham e lutam. E que, juntos como os dedos da mão, de mãos dadas, hão-de chegar ao fim da estrada e depois hão-de rasgar as estradas novas de Portugal livre, independente, socialista, para os homens novos que estão nascendo já.

Ficámos de te dar resposta. E. ressalvando embora a pública notícia, que não está nos nossos usos, mas que a luta aconselha nestes tempos de promoção, de crescimento necessário, aqui estamos para te responder dizendo apenas, com respeito e alegria compartilhada decerto por todo o grande colectivo fraternal do nosso Partido – que te saudamos, camarada! Abril vencerá!»

Com a sua ponta de veneno, Vergílio Ferreira escreveria na sua Conta-Corrente:

Aqui há dias a imprensa noticiou que o José Gomes Ferreira (aproveitando a circunstância de o ano ser bissexto?) no dia 29 de Fevereiro se inscreveu no PC. Aqui há semanas, e a propósito de um programa de TV, levantou-se grande celeuma sobre se Guerra Junqueiro era um poeta maior ou menor e ventilou-se ainda a questão sobre se ele, à hora do fim, se teria convertido à Igreja Católica. E, uma vez mais, é curioso como s história se repete. Só que no caso de Gomes Ferreira, ele inscreveu-se mesmo.

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