segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

OLHAR AS CAPAS


E a Noite Roda

Alexandra Lucas Coelho
Edições Tinta-da-China, Lisboa Maio de 2014

Tento ver-nos. Estamos sentados a um canto da esplanada, um sopro faz tremer a vela, os teus olhos acendem. Contas que uma vez dormiste num apartamento tenebroso aqui perto, em Rehavia, o bairro de Bem Gurion e de cada primeiro-ministro. Foi durante os primeiros tempos de correspondente no Cairo, quando ainda vivias sozinho num hotel.
- Depois mudámos para uma casa à beira do Nilo.
Pela primeira vez falas no plural, és tu, a tua mulher e ios teus filhos. Mas nºão falas da tua mulher. Apenas dizes que é cantora lírica quando pergunto o que faz.
Falas dos teus filhos sim.
- São o melhor da minha vida.

E nisto vai todo o amor que há e o que falta. Não gostava que o pai dos meus filhos falasse assim, como se o melhor não me incluísse. Mas também penso que não tenho filhos.

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