sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

OLHAR AS CAPAS


A Noite e o Riso

Nuno Bragança
Capa: Mendes de Oliveira
Colecção: Círculo de Prosa
Moraes Editores, Lisboa s/d

Estive na Cidade e vi lá uma desagradável balbúrdia.
Eu estava no pátio em frente ao Tribunal; e estava a beber água porque tinha muita sede. Nisto, gritos, patadas e pedidos de socorro: tudo dentro de uma capelista. Quando vi um polícia magro a limpar o cacete à aba do casaco percebi que o sarilho era curioso, porque o polícia era magro (o que me pareceu muito curioso). Fui ver e tive custo em perceber o que a capelista me explicou em lágrimas de raiva.
Parece que um homem que estava a comprar tabaco zangou-se com a Justiça e declarou que se ia queixar ao Ministro. Mas também estava ali um advogado, e disse ao homem que aquilo era asneira grossa.
«Porquê?», perguntou o homem.
«Por causa da Independência Jurisdicional», disse o advogado.
«O que é que isso quer dizer?», perguntou o homem que não era letrado.
«Quer dizer que ninguém manda nos Tribunais porque eles mandam em si mesmos ou seja uns com os outros.»
A bofetada foi tão grande que meia hora depois o homem se queixava da mão.
Custou-me um bocado não pregar um par de murros na capelista.
Porque é que estes advogados não se contentam com falar nos tribunais? E sobretudo não há direito que uma capelista se ponha aos berros só por causa dum episódio corriqueiro.

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