sábado, 14 de março de 2015

OS IDOS DE MARÇO DE 1975


14 de Março de 1975

NESTE DIA, há 40 anos, o País surpreendia-se com a notícia de que o Conselho Superior da Revolução, como sua primeira grande decisão, nacionalizava todas as instituições de crédito bancário, com sede em Portugal e Ilhas Adjacentes, com pequenas excepções, atendendo à existência de filiais e bancos estrangeiros e caixas económicas e de crédito agrícola mútuo, que aguardarão lei especial.

General Vasco Gonçalves:

Penso que hoje é um dia histórico para o nosso povo. O 14 de Março fica gravado na história do nosso povo, como uma data que corresponde a um passo muito importante dado na sua libertação, na via do progresso, na via do País dominar os seus próprios recursos. Portanto julgo que hoje é um dia de alegria para todos, menos para aqueles que beneficiavam largamente com o sistema anterior vigente.

 O PPD, sublinha que substituir um capitalismo liberal por um capitalismo de estado não resolve as contradições com que se debate hoje a sociedade portuguesa.

Mário Soares chama-lhe um dia histórico em que se pode assinalar que o capitalismo se afundou.

O economista Eugénio Rosa lembra:

É suficiente dizer, e só a título de exemplo, o que aconteceu até há pouco tempo com um banco. O grupo económico a que ele pertencia criou 15 empresas no mesmo edifício, com um capital social de 3.500 contos, a quem emprestou mais de 3 milhões de contos para que aquelas pudessem jogar em acções especulativas, sem qualquer interesse para satisfação das necessidades populares.

Jornalista Miguel Serras Pereira:

Aquilo que se fará com a estatização da banca é, sem dúvida, bem mais importante do que essa estatização em si mesma.

Economista Maia Cadete:

Era absolutamente necessário extirpar o mal pela raíz. E a raiz estava efectivamente podre. Como é sabido a banca constituía um «reino» reacionário com autonomia dentro de um Portugal já democrático.



Neste mesmo dia, a profª Isabel de Magalhães Colaço, Diogo Freitas do Amaral, Henrique de Barros, Rui Luís Gomes, Teixeira Ribeiro e Azeredo,  civis do estado apresentam a sua renúncia.

Também se fica a conhecer os militares que compõem o Conselho da Revolução:

Pinheiro de Azevedo, Rosa Coutinho, Carlos Fabião, Mendes Dias, Lopes Pires, Pinho Freire, Costa Gomes, Vasco Gonçalves, Otelo saraiva de Carvalho.

Membros da Comissão Coordenadora:

Franco Charais, Canto e Castro, Pereira Pinto, Almada Contreiras, Miguel Judas, Vasco Lourenço, Pinto Soares, Ferreira de Sousa, Sousa e Castro, Pezarat Correia, Marques Júnior, Martins Guerreiro, Ramiro Correia, Costa Neves, Graça Cunha.

Os Bancos reabram amanhã.

QUEBRANDO um silêncio voluntariamente mantido nos últimos meses, o Capitão Salgueiro Maia dá uma entrevista ao jornalista Dinis de Abreu, publicada no Diário Popular.


Salgueiro Maia conta que ao principio da tarde do dia 11, deslocou-se a Tancos para dizer a Spínola que tudo aquilo era irracional e que o momento político não se compadecia com aventureirismos como aqueles que estavam a ser desencadeados.

Quando o viu, Spínola disse-lhe:

- Mas, então, você não está em Lisboa?

- Mas nós somos tudo menos malucos, e não compreendo como é que o meu general se mete numa alhada destas…

Salgueiro Maia fica com a ideia que o general está extraordinariamente mal informado, porque garantia que toda a situação era dele, todas as forças lhe obedeciam e que tinha sido levado àquilo por uma comunicação recebida nessa noite, através de uma lista de elementos a abater por determinada organização política; à cabeça da qual se encontrava com 500 militares e cerca de mil civis, numa operação designada por «Matança da Páscoa».

Salgueiro Maia desabafa a Dinis de Abreu:

Spínola está absolutamente irrecuperável. Na presente situação política, ele era para os seus adeptos um D. Sebastião. Agora, já não há D. Sebastião. É bom não esquecer  que ele foi um dos melhores generais e um dos piores como político.

Editorial de Augusto Abelaira na Vida Mundial:


Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira;
Discursos – Vasco Gonçalves, Edição do Autor, Lisboa, 1976

Legenda:
- pormenor da 1ª página do Diário de Lisboa de 14 de Março de 1975;
- páginas centrais do Diário Popular de 14 de Março de 1975.

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