quarta-feira, 18 de março de 2015

OS IDOS DE MARÇO DE 1975


18 de Março de 1975

ÁLVARO CUNHAL, secretário-geral do Partido Comunista, manifestou a intenção de os implicados no 11 de Março, serem severamente punidos, nunca fuzilados, como chegou a ser apresntado, por militares extremistas, numa Assembleia do MFA.

Os comunistas portugueses sempre disserem que são homens de justiça e não de vingança.

Dezoito jipes, tês carrinhas Mercedes e uma Berliet partem de Lisboa em direcção a Viseu e aos dezassete conselhos do distrito.
É o início da Camaonha de Dinamização Cultural que integra elementos de todas as Forças Armadas incluindo representantes da PSP e GNR.

Mário Castrim no seu Canal de Crítica no Diário de Lisboa:

Virá o tempo em que já não será possível distinguir onde está o soldado e o operário, o oficial e o camponês esse tempo será quando as fardas estiverem tão sujas de terra que se perca a própria noção de farda para se adquirir uma nova noção: a de se vestir a pele de português e de trabalhador.


Mais tarde, no seu livro MFA Dinamização Cultural Acção Cívica, Ramiro Correia reconhecerá que um problema que surgiu desde o início, foi o da dificuldade dos militares responderem a questões políticas delicadas. Era evidente a incapacidade na criação de quadros e também se tornava cada vez mais claro que as lutas pela conquista do poder, iriam afectar a qualidade e quantidades de militares dispostos a empenharem-se em acções desta natureza.

É conhecido o episódio com aquele oficial miliciano que, numa aldeia  transmontana, perguntou à assistência presente da sala:

Vocês sabem o que é o socialismo?

Uma velhota devolveu-lhe:

E vossemecê sabe o que é um engaço?

A NATO, segundo notícia do Diário de Lisboa está preocupada com a decidida viragem à esquerda operada pelos dirigentes militares em Lisboa.

Dias antes o New York Times diz-se desiludido e escreve: um golpe nas esperanças que havia de se conseguir uma democracia política e que as nacionalizações pretendem sabotar a bases económica dos grupos não comunistas

O jornal francês L’Aurore que sempre foi um aliado incondicional da ditadura, fez contas e chegou à seguinte conclusão:

Os detidos políticos são hoje mais numerosos do que no tempo de Caetano.

VERGÍLIO  Ferreira no seu Conta-Corrente:

A Arcádia, ligada à Companhia de Seguros Império, passa ao governo. Devo estar a ser «saneado», quer dizer, «sacaneado». Se me deixarem em paz, o que me resta é escrever para o monte. Se ao menos um pequeno conforto no meio de tudo isto. Não há. Há só o desejo dele, que é ao menos para o prazer não acabar quando começa.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
Conta-Corrente, 1º volume, Vergílio Ferreira.
- MFA Dinamização Cultural Acção Cívica, Ulmeiro, Lisboa s/d

Legenda: fotografia da Campanha de Dinamização Cultura tirada da Vida
                Mundial. 

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