sábado, 25 de abril de 2015

OLHAR AS CAPAS


Poemas de Ponta & Mola

Mendes de Carvalho
Editorial Futura, Lisboa, Abril de 1975

POEMA DE ABRIL

No silêncio da noite
a palavra
(a)guardada

No silêncio da noite
a palavra
libertada

No silêncio da noite
transmitida
a palavra

No meu país cinzento
no meu país sofrido
mártir
prisioneiro
e atraiçoado

a palavra alastra
e voa
a tua palavra
meu povo
penitente
sem pecado

tinhas um cravo de sangue
um cravo de medo
um cravo de morte
um cravo de sal
cravo de terror
cravo de caxias
cravo de peniche
e tarrafal

Na manhã de Abril
um cravo encarnado
nasce no peito
aberto
dum soldado

Na cidade na aldeia
nas praças nas ruas
irrompe liberta
uma flor de força
e de combate

um cravo-país-amor

Sem comentários: