quarta-feira, 22 de abril de 2015

OS IDOS DE ABRIL DE 1975


22 de Abril de 1975

A campanha eleitoral aproxima-se do seu fim.
Em discussão a saída para que os não se sentem devidamente elucidados politicamente, recorram ao voto em branco.
O título deste dia, no Diário de Notícias, de Os Apontamentos de José Saramago é o Branco em Discussão:

Este branco que se discute não é o vinho a que esse nome damos, nem é já (felizmente) o português que por terras coloniais andava como colonizador e opressor. O motivo da polémica que, em todos os tons, lavra de Norte a Sul do País é o denominado voto em branco. Dizem uns (di-lo também a Comissão Nacional das Eleições) que o voto em branco é a resposta cívica daqueles eleitores que, conscientes do seu dever de votar, estão igualmente conscientes de que o esclarecimento político colhido ao longo deste ano não foi, afinal, tão claro como todos desejaríamos. Replicam outros que aconselhar o voto em branco (naquele caso) é pouco menos que insultar o eleitor, e que os 365 dias decorridos foram bastantes e sobejantes para que um povo que nunca exerceu a política se transformasse em perspicaz aferidor destes nada menos que doze partidos concorrentes.
(…)
É preciso que fique esclarecido que o voto em branco ou inutilizado com um traço também é voto. É voto que deve merecer tanto respeito como aquele que se exprime firmemente por uma opção partidária. O voto em branco é o voto de quem não sabe e o afirma. O voto em branco é uma forma de protestar contra quarenta e oito anos de fascismo que, eles sim, são os verdadeiros responsáveis por esta discussão tão pouco clara, em que se procura pescar votos como em águas turvas se pescam peixes cegos…

GRAVES INCIDENTES em comícios, ontem, realizados pelo CDS em Guimarães e no Porto. As forças militares foram obrigadas a intervir para protecção dos apoiantes democrata-cristãos. No comício de Guimarães, presidido pelo general Galvão de Melo, houve troca de tiros de que resultaram vinte feridos.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.

- Os Apontamentos – José Saramago.

Legenda: cartaz de Vespeira

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