terça-feira, 30 de junho de 2015

OS IDOS DE JUNHO DE 1975



 30 de Junho de 1975

FUGIRAM de Alcoentre 88 pides.
O recorte pertence à primeira página do Diário de Lisboa.
Pela sua leitura fica a saber-se que na Penitenciária de Alcoentre estavam detidos 843 agentes da PIDE/DGS.
De uma prisão, considerada pelos técnicos como uma das mais seguras da Europa, os ex-agentes conseguiram descer os altos muros servindo-se de escadas improvisadas com ferros das camas, presos por cordas de plástico.
Do estranho e insólito acontecimento, José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo escreveram o Fado de Alcoentre.

A introdução recitada por Ary dos Santos:

Mas enquanto homens lutavam com uma entrega total
Outros homens conspiravam contra o novo Portugal
Essas hienas que apertavam o garrote da tortura
Enquanto a Democracia se distraía em ternura
Esses homens que hoje saem da prisão em liberdade
Cães que rosnam, cães que traem, e passeiam na cidade

A letra do fado:

Que se passa? Então isto não é uma ameaça?
Ali andou mãozinha de reaça.
Deixaram fugir mais oitenta e nove…
Que se passa? Então isto não é uma ameaça?
Ali andou mãozinha de reaça.
Deixaram fugir mais oitenta e nove…

Os pides desceram pela corda alegremente.
Os guardas andavam passeando em Alcoentre.
E a esquerda levou com mais um corno pela frente.
Esta maldade não se faz à gente.
Que merda!

As grades foram todas serradas a preceito.
A fuga aproveitou-se do que era imperfeito.
E a esquerda, por causa da vergonha deste feito,
pode apanhar uma bala no peito…
Que merda!

Quem foram os que de fora das grades ajudaram?
Quem foram os que dentro das grades os armaram?
A esquerda não esquece tubarões que a torturaram.
Não pode perdoar se a enganaram.
Que merda!

Agora, a vigilância é tudo o que nos resta.
Pr’ós pides, a vida na prisão… era uma festa.
E a esquerda tem mais do que razão quando protesta,
pois pode apanhar um tiro na testa…

Que merda!


ENTRETANTO o Decreto-lei nº 329-C/75 demite da Armada, com efeitos retroactivos a 25 de Abril de 1974, o ex-Presidente da república, almirante Américo Tomás.

NO DIA 26 MOÇAMBIQUE tornou-se independente.
Do Rovuma ao Maputo.
Samora Machel é o presidente da República Popular de Moçambique, o 34º maior país do mundo
Em nome do governo português esteve presente Vasco Gonçalves.
À partida para Maputo, Vasco Gonçalves dissera: não recebemos lições de ninguém em matéria de descolonização.
Na conferência de imprensa, após a cerimónia da investidura de Samora Machel, disse:
Nós pensamos que as relações de novo tipo que Portugal está estabelecendo com as nações que hoje estão ascendendo à independência, foi a Guiné, hoje Moçambique, dentro de poucos dias cabo Verde, mais tarde Angola e os outros territórios, nós pensamos que estamos dando ao Mundo um exemplo de fraternidade, um exemplo de amistosidade, um exemplo de encarar com a maior nobreza e com a maior esperança as novas relações que se estão estabelecendo. Pensamos que estas relações podem ser seguidas por todos os povos do Mundo no caminhada independência de todos esses povos no caminho da paz, do progresso e do bem-estar da Humanidade


Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.

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