sábado, 29 de agosto de 2015

OLHAR AS CAPAS


Crónicas: Imagens Proféticas e Outras
3º Volume

João Bénard da Costa
Edição: Lúcia Guedes Vaz
Sistema Solar, CRL (Documenta), Lisboa, Outubro de 2014

Cada encontro é um reencontro. Não sei de outra explicação plausível para os encontros que, ao longo da vida, cada um de nós teve, tem ou terá. «Se não me conhecesses, não me procuravas». É verdade que muitos procuram sem achar. Mas nunca ninguém achou sem procurara, mesmo que não soubesse o que procurava ou quem procurava. Todos nascemos com um conhecimento que esquecemos nos anos ditos de aprendizagem. O que a vida nos vai dando, nos chamados encontros, é a memória desse esquecimento. Memória que reconhecemos como tal, esquecimento que não recordamos como tal, porque um dos caminhos do acesso nos está vedado, ou nós o vedámos. Mas é a memória que permite o encontro, que, sem ela, nunca se daria. Julgamos achar de novo, mas só achamos o que encontrámos. Quantas vezes nos dizemos: «isto não pode estar a acontecer». Mas o que não pode estar a acontecer é o que acontece, e só acontece porque já aconteceu. Sob outras formas, noutros mundos ou noutras idades? É bem possível, é mesmo a única possibilidade, só que o possível e o impossível ultrapassam as categorias de tempo e espaço a que nos referimos. Sem o sabermos vemos o mesmo filme, com o fim no lugar e o princípio no lugar do fim. Não há solução mais falsa do que a da continuidade. Mas, se não houvesse continuidade, não havia solução.

Sem comentários: