sexta-feira, 11 de setembro de 2015

OLHAR AS CAPAS



O Mapa Cor de Rosa

Maria Velho da Costa
Capa: Fernando Felgueiras
Desenhos de Oscar Zarate
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Abril de 1984

Percebo agora como o exílio pode ser compulsivamente interferente, affaire de coeur mais passional que paixão, ou ofensa até à doença mortal – as enormes ausências cívicas de um Eduardo Lourenço, do Jorge de Sena. Estar longe do chão onde se botou raízes e onde se afinaram as folhas, é violência, é carência. Que distorce a percepção, ainda que a afine. A nossa cultura deve muito a viajantes, a nossa democracia a degredados, a nossa economia a emigrantes. Parece que não, Salazar fez todo o possível para parecer que não, mas isso faz de nós uma sociedade carente, isso faz de nós um povo de violência. Porque a violência tem muito a ver com a contradição nas escolhas, com a indeterminação dos objectivos, com a carência do ânimo, da formação, de algo mais profundo, que é a fidelidade àquilo que se investiu, se apostou com firmeza. E nesse sentido, a firmeza é o único antídoto da violência, como o acto de intimidade com alguém é o oposto do estupro.

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