terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O CAMINHO DAS REVOLUÇÕES


Nas cidades estranhas, onde as revoluções se fazem
devagar, e os jornais são lidos de trás para a frente, ouço
os pássaros que cantam nas árvores sem folhas. Um homem aponta
a lanterna para a porta aberta, e quando lhe dizem
que é dia ele responde que é cego, e precisa
de acender a lanterna para ver o caminho que nunca
há-de ver. À entrada da casa, onde a mulher espera
que ele entre, a revolução já subiu as escadas até ao infinito
onde se juntaram todas as revoluções. A burguesia das cidades
estranhas aquece o chá para que as revoluções o bebam
pelas chávenas de porcelana que ninguém partiu, como
se as revoluções precisassem de chá. O cego continua
a apontar a lanterna para as escadas, onde a mulher
pensa se há-de fechar a porta para que as revoluções
não voltem a sair, depois de tomarem o chá. E a burguesia
enche de açúcar as chávenas de porcelana, onde o chá
fumega, para adoçar a boca das revoluções. A mulher
fechou a porta; e o homem apaga a lanterna, para finalmente
ver tudo o que se passa à sua volta.

Nuno Júdice

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