quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

OLHAR AS CAPAS


Poesia Amável

José Fernandes Fafe
Prefácio: José Gomes Ferreira
Colecção Poetas de Hoje nº 11
Portugália Editora, Lisboa, Outubro de 1963

Se não tivesse sido a esquadra americana, que fez esgotar a cerveja na cidade, eu não teria ido à outra banda beber um fino… Não nos teríamos encontrado, por conseguinte.
Mas, também, se o teu isqueiro não se tem avariado e a tua voz não fosse - até na adversidade! - manselinha (« - Por favor…» Nas comissuras dos lábios, tanto destino cruzado! - «Muito obrigado, Senhor…») sequer teria reparado em ti…
Qual é a explicação da tua voz? Herdaste-a de teus pais? De teus avós? De que Senhora Aónia és descendente?
«Poeta desempregado…» espalham para aí os teus. Mas se não fosse um poeta… quem te houvera de amar, ó minha feia? E empregado… como é que eu poderia, às quatro horas da tarde - numa quinta-feira - estar, digam-me lá, na outra banda?
Os marujos… e se eles eram cupidos… (crescidos, americanos, vestidos à marinheira…) que nos feriram com uma seta, teleguiada, certeira…

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Foram as manobras da NATO…
Foi um isqueiro empanado…
Foram as voltas do Mundo…
Foi uma loucura (dizem os amigos)
… que engendrou - cegamente - o nosso encontro em Cacilhas.
Coisa tão bela e absurda como o aparecimento do Homem!

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