sábado, 23 de abril de 2016

OLHAR AS CAPAS


Ensaio Sobre A Cegueira

José Saramago
Prefácio: Zeferino Coelho
Capa: Rui Garrido
Colecção Essencial nº 1
Leya/RTP, Lisboa, Abril de 2016

Tal como os livros anteriores de Saramago, O Ensaio Sobre a Cegueira teve um enorme êxito junto dos leitores (mesmo daqueles que se recusavam a lê-lo ou que abandonavam a leitura por medo de enfrentar aquela terrível realidade, que, todavia, é mera invenção) E no ano seguinte começavam a sair traduções um pouco por toda a parte, sempre com grande aplauso da crítica. Recordo-me que nos Estados Unidos da América o livro saiu no verão de 1998 e todos os grandes jornais e revistas o referiam de forma muito positiva, e algumas vezes entusiásticas. Em setembro comecei a receber na editora as recensões americanas (1).
E foi uma delas, publicada pelos Los Angeles Times, que me deu o que me faltava para compreender o livro. O crítico classificava-o como “um romance sinfónico”. E é isso que, quanto a mim, o livro é no que se refere à sua estrutura romanesca. Um conjunto de solistas – aquelas personagens sem nome, identificadas apenas por uma característica particular da sua vida (o médico, a mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, o ladrão, o primeiro cego, a mulher do primeiro cego, o rapazinho estrábico, o velho da venda preta, isto sem esquecer aquele que é talvez o mais eloquente de todos eles, o cão das lágrimas (2) – solistas movimentando-se sobre um grandiosos pano de fundo – que está ali como se fosse uma orquestra. E o romance está construído de tal modo que nem a orquestra, a multidão infindável de cegos, se sobrepõe aos solistas abafando-lhes a voz, nem os solistas se sobrepõem à orquestra, fazendo-nos esquecer a força do pano de fundo dentro do qual vivem o seu drama.

(1)   Ainda hoje estou convencido de que foram estas recensões que acabaram por convencer os membros da Academia Sueca a atribuírem-lhe o Prémio Nobel da Literatura.
(2)   Ouvi várias vezes o autor dizer que não se importaria de vir um dia a ser conhecido como o criador desta personagem, o cão das lágrimas.

(Do Prefácio de Zeferino Coelho)

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