domingo, 23 de outubro de 2016

OLHAR AS CAPAS


Debaixo do Vulcão

Malcolm Lowry
Tradução: Virgínia Motta
Capa: Infante do Carmo
Colecção Dois Mundos nº 61
Livros do Brasil, Lisboa s/d

No ano anterior chovera precisamente quando não devia. E aquelas nuvens do sul indicavam tempestade. Teve a impressão de que cheirava a chuva. Pensou que nada lhe seria mais agradável do que ficar encharcado até aos ossos, caminhando, assim, por muito tempo, naquela região bravia, vestido de flanela branca, cada vez mais e mais encharcado. Pôs-se a observar as nuvens: eram como cavalos velozes, saltando pelo céu fora. Uma tempestade sinistra e extemporânea que ia estalar! Assim era o amor – pensou – o amor, quando chegava tarde de mais. Simplesmente, a esse não se sucedia a calma salutar, como quando a fragância da tarde ou a luz branda do sol e o calor voltavam à terra surpreendida! Laruelle apressou ainda mais o passo. E que semelhante amor, mudo, cego e louco, nos assalte – nem por isso o nosso destino é alterado de acordo com as precedentes comparações. Tonnere de Dieu… Não servia de nada dizer a que se assemelhava o amor quando vinha tarde de mais.

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