sábado, 19 de novembro de 2016

VOLTAR A BARALHAR...


Poucas coisas – provavelmente nenhumas – gosto de dar como definitivas.

Então em matéria de livros, estamos conversados.

Só leio o que entendo ler e tenho por ideia de que quando os livros não me agradam a culpa é apenas minha.

Reli agora As Naus de António lobo Antunes.

Quando o li, em Abril de 1988, fiquei com uma péssima impressão.

È o sétimo livro de Lobo Antunes e os dois anteriores, Fado Alexandrino e Auto dos Danados, já não me tinham causado entusiasmo.

A releitura de As Naus não me levou a mudar de ideia.

Piorou, mesmo.

Naquelas muitas entrevistas que os autores dão, quando sai romance novo, Lobo Antunes pretendia que o livro era uma tentativa de dar, sob forma onírica, o retrato deste país, em que o passado e o presente se misturam .
A História de Portugal contada através do regresso das caravelas que trazem de volta os portugueses como os retornados do 25 de Abril.
É o melhor livro que escrevi, tanto do ponto de vista técnico como formal.

Juntar o regresso dos retornados das colónias com a dos navegadores do Infante poderá ser uma boa ideia mas, sempre opinião pessoal, faltaram unhas para a guitarra, e o resultado, nada conseguido, cifra-se numa destemperada confusão.

Um exemplo: voltei a não compreender como é que um homem de nome Luís a quem faltava a vista esquerda, que permaneceu no Cais de Alcântara três ou quatro semanas pelo menos, sentado em cima do caixão do pai, à espera que o resto da bagagem aportasse no navio seguinte, e como a bagagem não chegou, passeia-se, com o cadáver do pai pela zona ribeirinha à espera de se desfazer do caixão, até que na Estação de Santa Apolónia um outro homem, este chamado Garcia da Horta, cultor de ervas aromáticas e carnívoras, lhe compra o caixão e o converte para adubo das plantas.

Por vezes salta um sorriso, amarelo, mas o livro é uma desilusão.
 
Desde  Exortação aos Crocodilos que não voltei a concluir a leitura dos livros de António Lobo Antunes.

Outros estão por aí e ainda nem sequer os abri.

Talvez o não gostar de coisas definitivas me leve, um destes dias, a pegar neles, a miragem do encontrar uma surpresa.

Talvez…

Mas continuo a gostar do António Lobo Antunes cronista.

Aguardo, agora,  a chegada do Sexto Livro de Crónicas.

Talvez chegue pelo Natal.

Seria bem agradável.

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