quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

DOS PINGOS DA CHUVA NO CALCÁRIO DOS PASSEIOS


E sempre a avançar sem se demorara em lado algum, nem na montra de uma loja nem em cumprimentos de esquina ou pequena conversa de bairro. A sua figura alta, de passos longos e firmes, era extremamente agradável à vista e vi, eu vi, muitas vezes, pessoas a olhar para ele. Ele a passar e alguém a reparar. Depois, lá regressava a casa, à hora do almoço. E terminada a refeição lá ia outra vez para o liceu e no fim da tarde voltava. Sempre a pé. Sempre e sempre a pé fizesse frio ou calor, fosse noite ou fosse dia. Rómulo evitava os transportes públicos, não tinha automóvel nem sequer carta de condução. Percorreu quilómetros sem fim nesta cidade de Lisboa para todo o lado onde podia deslocar-se a pé.
Houve um período em que todos os domingos da parte da tarde saía com a sua máquina fotográfica a tiracolo. Demorava-se umas horas. E um dia, apareceu publicado um grande livro, um álbum chamado Memória de Lisboa. Entre tantas das suas notáveis e diversas atividades, Rómulo foi também fotógrafo amador e, da cidade de Lisboa, que tanto amou, desde a Sé à Torre de Belém, de Alcântara ao cais das Colunas, guardou todas as imagens possíveis do seu rio Rejo. Das ruas, de monumentos, de pormenores, de pessoas, da luz de todos os dias, dos pingos da chuva no calcário dos passeios.

Sem comentários: