sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O DINHEIRO E OS ESCRITORES


São conhecidas as dificuldades económicas com que alguns escritores portugueses viveram nos idos do século passado.

Pela correspondência trocada entre si, são inúmeros os lamentos de Jorge de Sena, José Rodrigues Miguéis, ambos no exílio, e António Ramos Rosa que nunca saíu de Portugal,

Exemplos:


«Quanto aos pagamentos, voltaremos ao acordo de prestações mensais? Não consegui resolver o problema que aí me levou, e estou cada vez mais pobre…»


«Confiando na sua generosidade, venho pedir-lhe que me empreste, durante o prazo que quiser determinar e que eu cumprirei à risca, alguns números de critique que infelizmente não estou em condições de poder assinar apesar do seu preço módico.»


«Não, Rosa, eu não assino nada (nem pude ainda renovar a assinatura da Critique),, e mal compro um livro – se o dinheiro nem me chega e a família passarmos ao mês seguinte!»

Num interessante trabalho da jornalista Catarina Carvalho, publicado na revista Ler nº 37 Primavera/Verão de 1997, sobre o dinheiro e os escritores, Luiz Pacheco, no seu modo único de saber experiência feito, disse:

«Só faz bem passar fome.»

Escreve a jornalista:

«Pacheco não está rico porque se recusou fazer concessões. Nunca ganhou com os livros dinheiro suficiente para viver, mas também nunca aceitou que nada lhe roubasse o tempo da escrita, «Só faz bem passar fome.» Chama-lhe «acreditar no que se faz»: «Se não temos consideração pelo nosso trabalho não temos consideração por ninguém.»

Referindo António Ramos Rosa, a jornalista lembra que, apesar de ter publicado setenta e oito títulos (números de 1997), o autor nunca ganhou propriamente dinheiro com os livros. Recebia cento e trinta contos de subsídio de mérito cultural, fazia traduções, dava explicações.

O artigo termina assim:

«O luxo dos livros. Ramos Rosa tinha fiado na Bucholz e nas várias livrarias do Campo grande por onde passava todos os dias, «para ver as novidades». No entanto, a maior quantia que terá gasto alguma vez foi na Livraria Barata onde entrou depois de receber o Prémio pessoa em 1988. Com livros empilhados chegou à caixa e pagou por eles cerca de cem contos. Sorria. Usou o dinheiro como sempre achou que o dinheiro havia de ser gasto: esbanjado em prazer.»

Sem comentários: