segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

ÊXTASES SILENCIOSOS DE NOITES DE VERÃO


Nas noites quentes, com as janelas enormes todas abertas, descíamos a rua principal e depois voltávamos para sudoeste e íamos até ao princípio da Highway 38, onde fazíamos a paragem do costume na banca dos gelados Jersey Freeze. Com um salto, passávamos do carro para a janela de correr onde podíamos escolher dois sabores – contem bem, dois: baunilha e chocolate. Eu não gostava nem de um nem de outro, mas adorava os cones de bolacha. O tipo que estava ao balcão e que era o dono da banca guardava os partidos para mim e vendia-os a cinco cêntimos ou, então, dava-me um de graça às escondidas. Eu e a minha irmã sentávamo-nos no capô do carro, num êxtase silenciosos, pois todos os sons, à exceção do zumbido dos grilos nos bosques das redondezas, eram abafados pela humidade de Jersey: A iluminação amarela do exterior funcionava como uma chama de néon para as centenas de insetos que pairavam e rodopiavam nas noites de verão. Nós ficávamos a vê-los zumbirem à volta da parede branca dos gelados e só deixávamos de olhar quando o enorme cone de plástico do Jersey Freeze, empoleirado de forma instável no alto da pequena construção de tijolos cinzentos, ia desaparecendo aos poucos pelo vidro das traseiras do carro.

Bruce Springsteen em Born to Run

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