sábado, 4 de março de 2017

DISSE ADEUS AO BRUCE JARDINEIRO


Num domingo, o Frank apareceu na sala com uma guitarra em vez do acordeão. Tocou os maiores êxitos da música popular do momento. Na altura o boom da música popular estava no auge. Hootenanny era um programa de prime-time na televisão e o Frank até estava a tocar bastante bem. Nesse fim-se-semana, sentou-se no chão da sala de estar, com uma t-shirt branca, meias pretas, umas calças chino pretas e uns ténis brancos (achei que nunca tinha visto ninguém assim de perto com um ara tão fixe e, mal cheguei a casa, tentei logo imitar aquele look.) Ele estava a safar-se muito melhor do que eu. Levou-me para o quarto, ensinou-me a afinar a guitarra, ensinou-me a ler tablaturas de uma colecção de música popular americana, deu-me o livro e mandou-me para casa. Afinei a guitarra o melhor possível e percebi imediatamente que tinha de começar do zero. Todas as minhas «músicas» desafinadas estavam agora a revelar a grande porcaria que eram. Abri o livro, procurei o «Greensleeves», li o acorde inicial em mi menor (só eram precisos dois dedos) e pus mãos à obra. Já era um começo. Nos meses seguintes, aprendi a maioria dos acordes maiores e menores; consegui desbravar terreno e tocar muitos standards da música popular; mostrei à minha mãe o que já tinha conseguido, para que ela me encorajasse; depois com os acordes de dó, fá e sol, consegui tocar o «Twist and Shout». Foi a minha primeira canção de rock’n’roll. Disse adeus ao Bruce jardineiro e ao único emprego a sério que iria ter durante toda a vida. Well shake itu p, baby!

Bruce Springsteen em Born To Run


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