sexta-feira, 14 de abril de 2017

O QUE TEMOS DE MELHOR PARA DAR


Porto, 1 de Setembro de 1967

Querido Jorge,

Cheguei há dias de Londres – que é a maravilha que sabe – e encontro em casa as suas Novas Andanças, que havia lido há muito. Alegrou-me que, finalmente, você me tenha perdoado o meu silêncio, que só tem a ver com o meu desespero e onde até a ternura e a amizade podem morrer à míngua de palavras, E, contudo, se ainda vivo, é na esperança de que à vida as palavras possam restituir uma possível dignidade. Algumas palavras, e entre elas contam-se as suas. Eis porque nada de quanto V. escreve me passa despercebido, o que é raro, nesta língua, a que ambos damos o que temos de melhor para dar.

Jorge de Sena/Eugénio de Andrade em Correspondência

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