terça-feira, 5 de setembro de 2017

OS CLÁSSICOS DO MEU PAI


O meu pai tinha uma profunda admiração por Orson Welles.

Gostava muito de O Terceiro do Homem e alinhava na conspiração de que o filme tem tudo de Orson Welles e nada de Carol Reed.

Tinha uma pancada pelo tema musical do filme, The Harry Lime Theme, tocado pela cítara de Anton Karas, e não lhe restava qualquer dúvida quando dizia que o filme foi feito para aquela música.

Ainda me lembro do 78/rpm que, na altura, comprou.

Tinha no lado B The Cafe Moxart Waltz, que também faz parte deste EP, que um dia comprei por 1 euro na Feira da Ladra.

Junte-se-lhe a paixão assolapada por Alina Valli, e o meu pai nunca leu o que João Bénard da Costa escreveu: «os olhos mais verdes que já vi, uma testa altíssima, uma boca sôfrega, perfil suavíssimo e um corpo que, sem ser vistoso ou agressivamente sensual, tinha as proporções feitas para a sedução.»

Altiva e orgulhosa, Alida Valli deixa o cemitério de Salzburgo e caminha estrada fora, indiferente à boleia que Joseph Cotten lhe oferece. Em fundo ouve-se a cítara de Anton Karas, até Alina Valli se perder, sublimemente, na linha do horizonte.

«Percebo que a imagem só se moveu, ou seja, só houve cinema, para nos dar movimentos desses e mulheres assim», para voltar a citar João Bénard da Costa.




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