sábado, 2 de setembro de 2017

TUDO EM NOVA ORLEÃES É BOA IDEIA


Nova Orleães, ao contrário de outros sítios que perdem a magia quando a eles voltamos, ainda atem. A noite pode engolir-nos mas mesmo assim nada nos toca. Em todas as esquinas, há uma promessa de algo destemido e ideal e as coisas mal começaram. Há algo obscenamente alegre atrás de cada porta, ou então, alguém de cabeça perdida a chorar. Um ritmo preguiçoso domina o ar sonhador e a atmosfera vibra com os duelos de antigamente, com os romances de vidas passadas e com camaradas que procuram auxílio noutros camaradas. Não se vêem mas sabe-se que estão lá. Há sempre alguém a afundar-se. Toda a gente parece de outra qualquer família sulista muito antiga. Ou isso ou são estrangeiros. Eu gosto disto tal como é.
Há muitos sítios de que gosto, mas gosto mais de Nova Orleães. Há um milhar de perspectivas possíveis a toda a hora. Podemos dar de caras a qualquer instante com uma cerimónia em honra de uma rainha vagamente conhecida. Sangue azul, pessoas da nobreza completamente bêbedas escorregam pelas paredes abaixo e arrastam-se pela sarjeta. Mesmo esta gente parece possuir conhecimentos profundos que vamos querer ouvir. Nada aqui parece deslocado. A cidade é um poema muito longo. Jardins cheios de amores-perfeitos, petúnias cor-de-rosa, opiáceos. Santuários ornamentados a flores, murtas brancas, buganvílias e loendros púrpura estimulam os nossos sentidos, fazem-nos sentir frescos e tranquilos por dentro.

Tudo em Nova Orleães é boa ideia.

Bob Dylan em Crónicas

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