domingo, 19 de novembro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Poirot Desvenda o Passado

Agatha Christie
Tradução: Edison Ferreira Santos
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 1
Livros do Brasil, Lisboa s/d

Hercule poirot olhou com interesse e curiosidade para a jovem que era introduzida na Sala.
Nada havia de especial na carta que ela lhe escrevera. Era um simples pedido de entrevista, sem que nada sugerisse qual o assunto a tratar. Uma carta breve e séria. Apenas a firmeza da caligrafia indicava que Carla Lemarchant era nova.
E, agora ali estava em carne e osso – uma rapariga alta e esbelta, que mal havia trasposto a casa dos vinte anos. O tipo de mulher que se gosta de olhar mais de uma vez. Apresentava-se bem vestida, um casaco bem talhado, de alto preço, saia e peles. A cabeça bem equilibrada nos ombros, sobrancelhas regulares, o nariz de corte delicado e queixo resoluto. Parecia muito viva. Era a vivacidade, mais doq eu a beleza, que constituía nela o traço predominante.
Antes da sua entrada, Hercule Poirot sentia-se velho… Agora sentia-se rejuvenescido, vivo, ardente!
Quando avançou para cumprimenta-la, sentiu os seus olhos cinzento-azulados estudarem-no atentamente. Ela examinava-o com grande interesse.
Sentou-se e aceitou o cigarro que ele lhe oferecera. Depois de acender o cigarro, ficou sentada um ou dois minutos, a fumar e a examiná-lo com olhar grave e inquisitivo.
Poirot disse, delicadamente:
- Sim, é preciso decidir primeiro, não é?
- Queira desculpar, não ouvi bem – disse ela.
A sua voz era graciosa, com uma leve e agradável aspereza.
- Procura verificar primeiro se sou um charlatão ou o homem de que precisa, não é verdade?
Ela sorriu e disse:
- Bem, sim, é mais ou menos isso. Sabe, M. Poirot, o senhor… não é exactamente como eu o imaginava.
- E sou velho, não é isso? Mais velho do que imaginava?
- Sim, e isso também. – Ela hesitou. – Estou a ser franca, bem vê. Eu quero… é preciso que eu tenha… o melhor.
- Fique tranquila – garantiu Hercule Poiror. – Eu sou o melhor!
- O senhor não é muito modesto – replicou Carla. – Não tem importância, estou inclinada a confiar na sua palavra.
- Como sabe, disse Poirot serenamente – não devem apenas empregar-se os músculos. Não preciso de curvar-me e medir as pegadas, apanhar as pontas de cigarros e examinar as hastes recurvadas da grama. É suficiente, para mim, sentar-me na minha cadeira e pensar. É isto – e deu uma leve pancada na cabeça ovóide – é isto que funciona!

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