terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

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Durante os tempos da censura salazarista/marcelista, vários foram os esquemas utilizados pelos jornalistas para driblarem os coronéis-censores.

Um deles era «escrever nas entrelinhas» e, por vezes, a burrice/analfabetismo dos censores não entendiam a mensagem que navegava por essas entrelinhas.

Em 1973, Eduardo Valente da Fonseca, jornalista do República desde 1965, conseguiu convencer direcção e chefias do jornal a publicar uma brincadeira, com alguns riscos, é certo, no suplemento Fim de Semana, servindo-se dos signos astrológicos.


Tudo o que se publicava no jornal tinha de ir à censura, excepto as palavras cruzadas, os números da lotaria, o movimento das marés, os discursos anedóticos do presidente Tomás e os horóscopos.

Semanalmente, com  humor e inteligência o Eduardo Valente da Fonseca lançava directas e indirectas à situação política, e não só.

Quando os coronéis conseguiram descobrir as subtilezas do Eduardo, exigiram que o Horóscopo também passasse a ir à censura.

Mas foi sol de pouca dura.

Faltavam poucas semanas para que acontecesse o 25 de Abril.

Em Maio de 1998 a Campo das Letras editou esses Horóscopos de Delfos.

Alguns dos textos são de difícil entendimento porque datados, e apenas os que viveram aqueles conturbados tempos, se apercebe da subtileza do humor e da acutilância militante da escrita ímpar de Eduardo.

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