quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

SEM TER TIRADO O LENÇO DA ALGIBEIRA


Quando o comboio partir não digas adeus porque ficaste no cais. Foi apenas o teu passado que se foi embora, na terceira ou na quarta carruagem de segunda classe, precisamente a que acaba de desaparecer no túnel. Foi apenas o teu passado que se foi embora: o teu presente ficou. O teu presente, isto é: ir ao bar da estação, sem ter tirado o lenço da algibeira, sem saudade, sem remorso, sem pena, e olhar pelo vidro da porta o cais vazio, com o relógio a marcar uma hora que já não é a tua.

António Lobo Antunes em Segundo Livro de Crónicas

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