quarta-feira, 15 de agosto de 2012

OLHAR AS CAPAS


Cabo da Boa Esperança

Sebastião da Gama
Edições Ática, Lisboa Outubro de 1959

Canção de Guerra

Aos fracos e aos covardes
não lhes darei lugar
dentro dos meus poemas.
Covarde já eu sou.
Fraco, já o sou demais,
e se entre fracos for
me perderei também.

Quero é gente animosa
que olhe de frente a Vida,
que faça medo à Morte.
Com esses quero ir,
a ver se me convenço
de que também sou forte.
Quero vencer os medos...
Vencer-me - que sou poço
de estúpidos terrores,
de feminis fraquezas.
Rir-me das sombras, rir-me
das velhas ondas bravas,
rir-me do meu temor
do que há-de acontecer.

Venham comigo os fortes...
Façam-me ter vergonha
das minhas covardias.
E de seus actos façam
(seus actos destemidos)
chicotes pròs meus nervos.
Ganhe o meu sangue a cor
das tardes das batalhas.
E eu vá - rasgue as cortinas
que velam o Porvir.
Vá - jovem, confiado,
cumprindo o meu destino
de não ficar parado.

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