sábado, 21 de fevereiro de 2015

O BAILADOR DE FANDANGO


Na crónica As«Duzentas Mulheres» de Miguel Torga, Alexandre O’Neill, para além do poema do Torga refere outros poemas que o marcaram. Um deles  é O Bailador de Fandango de Pedro Homem de Melo que, nos primórdios da televisão em Portugal, tinha um muito apreciado programa de Folclore.
Lembro-me que, enquanto apresentava o programa, fumava um permanente cigarro o que, nos dias de hoje, ofenderia as virgens asaeanas, fiéis defensores da higienização pura.
Gente que se recusa a interiorizar que o excesso de saúde prejudica gravemente o prazer.
Mas O’Neill tem razão. O poema é muito bonito e dele se desprende um movimento contagiante

 
Sua canção fora a Gota. 
Sua dança fora o Vira.
Chamavam-lhe "o fandangueiro".
Mas seu nome verdadeiro
Quando bailava, bailava...
Não era nome de cravo
Nem era nome de rosa;
Era o de flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...
E havia um cristal na vista
E havia um cristal no ar
Quando aquele fandanguista
Se demorava a bailar!
E havia um cristal no vento
E havia um cristal no mar.
E havia no pensamento
Uma flor por esfolhar...
Fandangueiro! Fandangueiro?
(Nem sei que nome lhe dar...)
Tinha seus braços erguidos
Não sei que ignotos sentidos...
- Jeitos de asa pelo ar...
Quando bailava, bailava,
Não era folha de cravo
Nem era folha de rosa.
Era uma flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...
Que se esfolhava, esfolhava...

Domingos Enes Pereira,
Do lugar de Montedor,
(O bailador de Fandango
Era aquele bailador!)
Vinham moças de Areosa
Para com ele bailar...
E vinham moças de Afife
Para com ele bailar.
Então as sombras dos corpos,
Como chamas traiçoeiras,
Entrelaçavam-se e a dança
Cobria o chão de fogueiras...
E as sombras formavam sebe...
O movimento as florira...
O sonho, a noite, o desejo...
Ai! belezas da mentira!
E as sombras entrelaçavam-se...
Os corpos, ninguém sabia
Se eram corpos, se eram sombras,
Se era o amor que se escondia...

Legenda: fotografia tirada de Esposende e o Seu Concelho

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