quarta-feira, 11 de março de 2015

OS IDOS DE MARÇO DE 1975


11 de Março de 1975

A História baliza o começo do PREC Período Revolucionário em Curso com os acontecimentos de 11 de Março de 1975.

O Regimento de Artilharia 1, sediado na Encarnação, é atacado por aviões da Base Aérea nº 3 e cercado por tropas do Regimento de Pára-quedistas.

O quartel é cercado e o Aeroporto da Portela é encerrado.

Com alguma ponta de humor, o centrista Francisco Lucas Pires definiu o 11 de Março como o dia em que uns aviões dispararam uns tiros sobre um quartel em Lisboa, e no dia seguinte a banca estava nacionalizada.

Os primeiros atacantes levantaram voo de Tancos às 10,45. Horas: oito helicópteros de transporte, três helicanhões, e dois «Harvard» com um total de 160 pára-quedistas dirigem-se para o RAL-1.

Por trás da tentativa de golpe de Estado está o General António Spínola, ex-presidente da República, acompanhado por uma corte de militares que estiveram na Guiné enquanto Spínola foi governador do território.

No dia 6 de Março, a revista francesa «Témoignage Chrétien» publicara uma notícia que revelava: «Spínola prepara um golpe de Estado em Portugal», afirmando que Spínola recebera luz verde do embaixador dos Estados Unidos, Frank Carlucci, para tentar subverter o processo revolucionário iniciado em Portugal.

O mal-amanhado golpe tinha por objectivos:

- atacar o RAL-1, neutralizando a unidade militar de primeira linha do MFA;

- a GNR revoltar-se-ia pondo-se ao lado dos conspiradores;

- tal como no 25 de Abril apoderar-se-iam de diversos postos de rádio e da televisão.


No próprio dia do golpe, Spínola via telefone, tenta convencer os comandos de diversas unidades a porem-se do seu lado, entre os quais Jaime Neves e Salgueiro Maia.

Jaime Neves diz que apenas recebe ordens do COPCON e Salgueiro Maia recusa-se a ir ao telefone para o atender.

Incompetência? Ingenuidade?

Uma reportagem televisiva regista o caricato diálogo entre o capitão pára-quedista Sebastião de Almeida e o major Dinis de Almeida, do RAL-1, com este a perguntar se o capitão sabia o que estava a fazer.

- Tenho ordem dos meus superiores para ocupar a Unidade.

- Mas porquê? eu tenho ordens dos meus superiores para defender a Unidade

Martins tira um papel do bolso e mostra-o a Dinis de Almeida que passa uma vista de olhos pelo papel.

- Então e vocês atacam uma Unidade por causa de um papel?

- Não é por causa de um papel. Há altas individualidades descontentes com a forma como as coisas têm corrido. É em nome delas que desencadeámos estas acções, para garantir que as eleições de 12 de Abril se realizarão.

Entretanto, populares vão-se juntando em redor dos dois militares e começam a gritar: o povo não está com vocês!

Entretanto, a 5ª Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas começa a informar a população:

Música: Indicativo do MFA

Aqui estúdios da 5ª Divisão. Enquanto não se esclarece definitivamente a situação operacional, pedimos ao Povo Português e em especial à população de Lisboa que se mantenha calma e vigilante em união com o MFA e seus órgãos representativos. Contamos fornecer, o mais rapidamente possível elementos concretos e esclarecedores.

Cerca das 15,15 horas, Otelo Saraiva Carvalho, através da rádio disse aos jornalistas:


De como Almeida Faria, Natália Correia, Vergílio Ferreira, viram os acontecimentos deste dia:

Almeida Faria (Ver Olhar as Capas).

Natália Correia:

Começou por ser uma vassourada de sons que revolviam o céu da cidade. Prelúdio aziago do turbilhão de notícias que choveram durante todo o dia. Caças a hélice e helicópteros provindos de Tancos atacam o RAL1 na Encarnação, unidade especialmente afecta à faixa esquerdista do MFA, e o Quartel do Carmo é cenário de uma sublevação.
Mas já a meio da tarde a manobra contra-revolucionária, como a designa a Rádio por entre os conhecidos apelos à vigilância popular, é dominada pelo MFA. O comandante dos para-quedistas atacantes é preso com outros oficiais implicados no risível golpe e Spínola foge de helicóptero para Espanha, onde aterra numa base perto de Badajoz, acompanhado de 18 oficiais que noutros helicópteros o seguem nesta fuga espectacular.
Sim, uma sedição grotescamente consonante com este conglomerado de velhos ridículos nacionais que vão dando à costa da revolução. Isto no caso de se tratar efectivamente de um golpe estruturado com o intuito criminosos de levar a população a uma luta fraticida.

Vergílio Ferreira:

Cerca do meio-dia, houve um novo simulacro-revolução: um avião com duas bombas nas asas lançou uma no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1. Ripostou-se. Seis helicópteros desembarcam para-quedistas. Um moço disse-me ter falado com um deles. «tinham-nos dito que havia aqui reaccionários». Comédia para quem? O 28 de Setembro ainda parecia. Mas isto? A menos que seja um ensaio como o movimento das Caldas de há um ano. Mas agora ao contrário (quase).

Fontes:
- Acervo pessoal;
- Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira;
- Não Percas a Rosa, Natália Correia, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Novembro de 1978;
- Conta-Corrente, 1º Volume, Vergílio Ferreira.

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