domingo, 10 de setembro de 2017

O RÁDIO ESTAVA SEMPRE NA COZINHA


Na casa que ficava em Audubon Place, o rádio estava sempre na cozinha e continuamente sintonizado na WWOZ, a grande estação de Nova Orleães que passa basicamente blues e rural gospel do Sul. O meu DJ favorito era sem dúvida a Brwon Sugar, uma disco jockey. Estava no turno da noite, passava os discos de Wyonic Harris, Roy Brwon, Ivory Joe, Little Walter, Lighttnin’ Hptkins, Chuck Willis, os que eram bons. Fazia-me muita compnhia quando já todos estavam a dormir. Brown Sugar, quem que ela fosse, tinha uma voz grossa, lenta, sonhadora, melosa – potente como um búfalo – divagava pela noite dentro, atendia as chamadas telefónicas, dava conselhos amorosos e punha discos a girar. Pus-me a pensar que idade teria. Se saberia que a sua voz me apaixonara, me enchera de paz interior e serenidade e acabara com a minha frustração. Era relaxante ouvir a sua voz. Ficava vidrado no rádio. Conseguia captar todas as palavras ditas por ela. Gostava de poder ter estado de corpo inteiro onde quer que ela estivesse.
A WWOZ era o tipo de estação que eu costumava ouvir à noite até tarde, e recordou-me os dissabores da minha juventude mergulhando-me nela. Nessas alturas, quando algo corria mal a rádio podia confortar-nos e deixar-nos bem. Havia também uma estação de rádio country, que bem mais cedo, antes do dia nascer, passava todas as canções dos anos 50, muito material western swing – ritmos clip clop, canções como «Jingle, Jangle, Jingle», «Under the Double Eafle», «There’s a New Moon over My Shoulder», a «Deck of Cards», de Tex Ritter, que eu já não ouvia há pelo menos trinta anos e as músicas de Red Foley.

Bob Dylan em Crónicas

Legenda: Brown Sugar e Dwayne Breashears na WWOZ.



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