sábado, 18 de novembro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Retratos de Hábito

Nuno Félix da Costa
Versão inglesa de Anne Morrison
Capa: Manuel Rosa
Assírio & Alvim, Lisboa, Dezembro de 1983

O povo português é, como muitos, um cruzamento de raças, percursos e destinos que confluem no fatalismo da localização geográfica isolada e extremada a uma península no fim da Europa. Imagino as pessoas que aqui foram ficando: as perfeccionistas e insatisfeitas à procura da terra prometida finalmente achada ou conformados com a impossibilidade de a encontrar ou sem ânimo para a caminhada de regresso; as escorraçadas doutros espaços mais centrais ou vencidas e decididas a começar de novo; as que levaram até ao fim o gosto pela viagem e que aqui ficaram rodeadas de mar excepto no caminho que as trouxe; as que vieram por mar, já tudo conheciam e aqui ficaram; e as que naufragaram e não puderam não mais regressar.
Este perfil de pessoas parece consistente com o que são as atitudes (hábitos interiores) dominantes na nossa alma: a esperança vaga num futuro “ melhor” que há-de vir “quando deus quiser” e pelo qual não há muito a fazer para já, onde radica o sebastianismo e a Nossa Senhora de Fátima; a necessidade de motivações grandiloquentes como as da embaixada de D. Manuel ao Papa ou as do Convento de Mafra de D. João V, necessidade que nos faz sair do habitual miserabilismo minimalista; a aceitação do destino, o fado, que tem a ver com o fatalismo inclusos nos nossos costumes brandos e tolerantes, pouco reactivos do “tinha que ser”, “estava escrito” e, como sequência, “não havia nada a fazer”.

Uma parte significativa das fotografias foi tirada em festas religiosas.

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