sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

É O MIL TREZENTOS E QUARENTE E NOVE...


Afasta-se Ricardo Reis em direcção à Rua do Crucifixo, atura a insistência de um cauteleiro que lhe quer vender um décimo para a próxima extracção da lotaria, É o mil trezentos e quarenta e nove, amanhã é que anda a rodam não foi esse o número nem a roda anda amanhã, mas assim soa o canto do áugure, profeta matriculado com chapa no boné, Compre, senhor, olhe que se não compra pode-se arrepender, olhe que é palpite, e há uma fatal ameaça na imposição. Entra na Rua Garrett, sobe ao Chiado, estão quatro moços de fretes encostados ao plinto da estátua, nem ligam à pouca chuva, é a ilha dos galegos, e adiante deixou de chover mesmo, chovia, já não chove, há uma claridade branca por trás de Luís de camões, um nimbo, e veja-se o que as palavras são, esta tanto quer dizer chuva, como nuvem, como círculo luminoso, e não sendo o vate Deus ou santo, tendo a chuva parado, foram só as nuvens que se adelgaçaram ao passar, não imaginemos  milagres de Ourique ou de Fátima, nem sequer esse tão simples de mostrar-se azul o céu.


Legenda: fotografia Pinterest

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